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Restaurando ‘Star Wars’

Seis anos atrás, Petr “Harmy” Harmáček assistiu a uma reconstrução da versão original de “O Império Contra-Ataca”, feita por um fã, sem as alterações que George Lucas fez em seus filmes ao longo dos anos. Harmy pediu ao criador que lançasse uma versão do vídeo numa resolução melhor, em alta definição. “E ele me disse: ‘Se você quer tanto, por que não faz você mesmo?’”, conta ele. Sem experiência alguma com edição de vídeo, Harmy resolveu tentar mesmo assim. A primeira vez que tinha assistido a “Star Wars” foi aos cinco anos, e durante a infância teve batalhas de sabre de luz épicas com os amigos. “Eu tinha a cópia de uma cópia de um VHS velho da versão original de ‘Star Wars’, que vi tanto quando criança que gastou. Nos casos de ‘O Império Contra-Ataca’ e ‘O Retorno de Jedi’, vi as versões especiais antes e tive muita dificuldade para achar as originais em VHS aqui na República Tcheca”, diz.

Para quem não é particularmente fã da obra de George Lucas, o parágrafo acima talvez não faça muito sentido. Uma explicação, nas palavras de Harmy. “Em 1997, a chamada Edição Especial de ‘Star Wars’ foi lançada, com muitas alterações de áudio e vídeo, e todo o mundo achou que seria só uma versão alternativa divertida. Mas George Lucas disse: ‘Essa é minha visão original. Era isso que eu queria e agora será a única versão disponível’. Mas em 2004 saiu um DVD com mais alterações. Então onde estava a ‘visão original’ de 1997? E então, em 2011, o Blu-ray saiu com mais mudanças e até hoje a versão original não foi lançada numa qualidade decente.” Para quem não viu “Star Wars” quando os filmes foram lançados no cinema, ver as versões originais ficou muito difícil. Por vias oficiais, impossível.

O problema, para Harmy e muitos fãs de “Star Wars”, não é a existência de várias versões. Muitos filmes têm versões diferentes, cortes do diretor. “O problema real é a supressão intencional da versão original, historicamente importante e que ganhou sete estatuetas do Oscar — e que teve boa parte de seus aspectos que o fizeram levar tantos prêmios alterados depois”, afirma. Harmy conta que viu palestras em que os técnicos de efeitos especiais falavam sobre as técnicas utilizadas, os modelos de naves espaciais, o trabalho de câmera e os efeitos de óptica, enquanto uma tela atrás mostrava os efeitos computadorizados de 1997. “Isso é simplesmente errado.”

Com apenas uma experiência limitada com Photoshop no currículo, Harmy resolveu tentar fazer sua versão mesmo assim, assistindo a tutoriais na internet para fazer as coisas que precisava. Lançou, ao final, a versão “anti-especial”, chamada de “Partly Despecialized Edition”, da trilogia original de George Lucas. “Chamei assim porque peguei as Edições Especiais e tirei só as piores alterações”, lembra. Quando lançou a primeira versão, tinha aprendido tanto sobre edição de vídeo que quis recomeçar o processo, porque achava que já conseguiria fazer algo melhor. “Consegui remover a maioria das mudanças. Então tirei o ‘Partly’ do título e virou só ‘Despecialized Edition’.”

Antes de pensar em editar “Star Wars”, Harmy era fascinado por efeitos especiais, principalmente sobre como eles eram feitos antes dos computadores. “Eu só tinha as edições especiais de ‘Star Wars’ em VHS e queria muito ver os efeitos originais. Então fui atrás das versões originais ainda quando criança. Quando comecei a faculdade, em 2008, descobri o HD e achei as versões em HDTV da edição em DVD de 2004 na internet. De repente, ver ‘Star Wars’ na qualidade do laserdisc não bastava. Como eu queria ver o original, comecei a procurar uma versão em HD disso”, conta. Fãs antes dele já haviam tentado chegar às versões originais de “Star Wars”. “Mas acho que fui o primeiro a fazer isso em alta definição.”

Foi um processo trabalhoso. Como base, ele utilizou as versões da edição especial em Blu-ray, com imagens em alta definição. Para tirar as partes alteradas por George Lucas, utilizou “as melhores fontes com qualidade” que encontrou. “Quando dava, não trocava a cena inteira, porque os materiais disponíveis sem alterações têm qualidade tão ruim que você não pode colocar num vídeo em HD sem ficar muito esquisito. Então quando as alterações eram pequenas, eu trocava só um pedaço pequeno da imagem por aquilo que tirei de uma fonte de menor qualidade.” Para isso, utilizou imagens da versão original gravadas por fãs de exibições antigas na televisão, que algumas pessoas do site originaltrilogy.com lhe forneceram.

Para versões mais recentes — o trabalho continua –, contou com a ajuda de entusiastas de “Star Wars”, que compraram rolos de filme original no eBay e os escanearam em equipamentos caseiros — as imagens foram depois tratadas por Harmy. “Alguns desses rolos estavam com uma coloração rosada, então tive que restaurar as cores originais.” Há outros projetos de fãs que buscam a versão perfeita de “Star Wars” tal qual a vista nos cinemas, como a Silver Screen Edition, que restaurou uma versão em película de 35mm comprada na Espanha, e Harmy acompanha as novidades. “Essa versão tem alguns problemas, mas é brilhante pelo que é — uma restauração de 35mm”, diz. Ele cita o projeto “Revisited” do fã Adywan, que já lançou uma versão de “Uma Nova Esperança” com novos efeitos, mudanças no som, correções de cor e centenas de pequenas alterações — Adywan se incomodava, por exemplo, com o fato de que os famosos letreiros no início dos filmes passavam pela tela em velocidades diferentes e, em uma cena, tirou um fio do pescoço de C-3PO. “Estou muito ansioso pra versão dele de ‘O Império Contra-Ataca’, que é basicamente uma Edição Especial feita direito.”

Até agora, a Lucasfilm está “graciosamente tolerando a pequena comunidade” de fãs de “Star Wars” e Harmy nunca teve nenhum problema legal por disponibilizar na internet uma versão dos filmes de George Lucas. “É uma área legal cinzenta”, diz ele. De qualquer forma, ele pede no site para que só faça o download quem tiver uma versão oficial do filme — um DVD, um Blu-ray. “Claro que não tem um jeito de impor essa regra, mas tenho a convicção de que 99% das pessoas que fazem o download tenham uma versão oficial, então o estúdio não está perdendo dinheiro”, afirma. Segundo ele, a maior parte das pessoas que baixa “Star Wars” na internet faz o download da versão oficial do Blu-ray, e que as versões de fãs representam perto de 5% de total de downloads. As restaurações de fãs, aliás, ajudam o estúdio, ele opina. “Ajudam a base descontente de fãs a ficar razoavelmente contente e disposta a comprar mais produtos de ‘Star Wars’.”

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Crítica

O novo “Star Wars”: a crítica sem spoilers

Como alguém que assistiu recentemente às duas trilogias de “Star Wars”, na ordem de lançamento, minha expectativa para “O Despertar da Força” era baixa. A lembrança mais recente era a de Hayden Christensen em uma das piores atuações de todas as galáxias. Pra que mexer de novo nesse vespeiro? Não era melhor deixar a memória da trilogia original em paz? Depois de ver o sétimo episódio, a conclusão: ele está bem mais para trilogia original do que para a nova. Aliás, ele é muito (muito) parecido com o primeiro filme, “Uma Nova Esperança”.

Aqui vai só a premissa da história, o que acontece nos primeiros minutos ou já aparecia nos trailers, para ilustrar as semelhanças. Rey (Daisy Ridley) mora num planeta deserto e sabe pouco sobre sua família, até se envolver com o droide BB-8, que carrega em si uma informação importante para a rebelião. (Para quem não se lembra, Luke Skywalker também morava num planeta deserto, sabia pouco sobre sua família e se envolveu com a rebelião ao encontrar o droide R2-D2, que carregava uma informação importante.) Tem também o personagem que, como Han Solo, só quer salvar a própria pele até aderir à rebelião, um vilão mascarado que obedece a um vilão ainda maior e misterioso, heróis que não sabiam ser heróis até descobrirem a existência da Força.

[olho]Abrams apelou para a memória afetiva do público[/olho]

O diretor J.J. Abrams seguiu à risca a receita original de George Lucas e construiu uma história para aplacar a saudade dos fãs da série — numa das primeiras sessões do filme ouvia-se suspiros, gritinhos quando um personagem original como C-3PO aparecia e muitos bateram palmas. Outros tantos devem ter chorado (foi o caso de um amigo, pelo menos). Abrams apelou para a memória afetiva do público.

Mas seguir os passos de “Uma Nova Esperança” não seria garantia de nada e a receita poderia ter desandado. “O Despertar da Força” é um filme divertido, às vezes bem engraçado — Poe Dameron (Oscar Isaac) é um dos destaques nesse sentido. Não tem nenhum personagem tonto e irritante, como Jar Jar Binks, o que é sempre um motivo de comemoração. Os atores novos são bons, infinitamente melhor que os intérpretes de Anakin Skywalker ou mesmo Natalie Portman, bem ruim como a Padmé Amidala nos três primeiros episódios.

E o mais importante: os personagens novos são legais. Leia já era uma boa heroína, inteligente, corajosa e hábil com uma arma. Mas era apenas uma mulher num mar de personagens masculinos e ela foi colocada num biquíni dourado e escravizada por uma lesma gigante (que os fãs mais fervorosos de “Star Wars” perdoem a descrição) até ser resgatada por Luke. Rey tem a companhia de outras ótimas personagens femininas: a própria Leia, Maz Kanata (Lupita Nyong’o), e até uma vilã, a capitã Phasma (Gwendoline Christie). Se Luke tem um contraponto nessa trilogia nova, é Rey, a verdadeira protagonista e heroína da trama. Finalmente uma mulher (vamos descontar aquelas que não falam e só fazem figuração) pega num sabre-de-luz! O vilão, Kylo Ren (Adam Driver), não é nenhum Darth Vader, mas é complexo e tem potencial. E Driver, com aquela voz profunda, nasceu para fazer esse papel.

[olho]Os anos passaram e tudo praticamente voltou ao início[/olho]

O filme não é perfeito. Quem assistiu a “O Retorno de Jedi” e nunca mais parou pra pensar ou voltou ao universo de “Star Wars” pode não entender direito como fomos da festa dos ewoks para comemorar a derrocada do Império à guerra que vemos no início. Os anos passaram e tudo praticamente voltou ao início, com os rebeldes em desvantagem na luta contra os vilões. A motivação de alguns personagens também é um pouco nebulosa e não há exatamente uma conclusão. Na trilogia original, cada filme tinha um arco próprio e um fim de verdade. “O Despertar da Força” é um episódio inicial de algo maior, não amarra várias de suas pontas e deixa muitas dúvidas no ar.

Falta originalidade ao roteiro? Talvez. Mas, de qualquer forma, “O Despertar da Força” é um filme bem, bem legal, e apaga o gosto amargo que “A Vingança dos Sith” tinha deixado na boca. Já é um mérito e tanto.

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Cultura

Afinal, quão bom é ‘Star Wars’?

A estreia de um novo “Star Wars” mexe com as pessoas. No começo, foi fácil resistir a entrar no clima. Mas aí vieram os trailers, os comentários alucinados no Facebook, os pôsteres e — o golpe final — o fofíssimo robô BB-8. De repente, a internet estava cheia de discussões sobre a verdadeira natureza de Jar Jar Binks, o personagem mais chato da galáxia. Depois de três filmes meia-boca, porém, fica a dúvida: vale tanta animação? Quão bom é de fato “Star Wars”? Quais são os melhores filmes? Depois de muita análise, o nosso veredicto é simples: a franquia é boa. Mas nem tudo relacionado a seu universo é automaticamente bom. Longe disso.

Alguns livros e filmes além de criar personagens e uma trama, criam todo um universo, o que permite que novas histórias, antes e depois da original, sejam criadas. “Harry Potter”, por exemplo, vai ganhar spin-offs no cinema e no teatro. Nas telas, Eddie Redmayne será o magizoólogo Newt Scamander em “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, ambientada décadas antes de “Harry Potter”, mas com o mesmo universo de bruxos.

Mas a possibilidade de criar novas histórias não significa que elas sejam necessariamente tão boas quanto as originais. O que tornou “Harry Potter” e a trilogia original de “Star Wars” produtos de sucesso é o conjunto da obra: universos interessantes com bons personagens e boas tramas. Ambientar um livro num futuro distópico, numa escola de magia ou numa galáxia muito, muito distante, por si só, não é garantia de nada. Quando se espera algo tão legal quanto o original, a decepção pode ser grande. A expectativa é cruel.

A trilogia original de “Star Wars” é muito boa. O primeiro filme, o mais fraco dos três, já é interessante. O trio de mocinhos protagonista é excelente: um garoto que só tem bondade no coração, um cafajeste charmoso e uma princesa que não tem nada de donzela em apuros. Há uma boa trama política, uma história de amor, ação, um alívio cômico que aparece na medida certa (C3-PO) e um vilão antológico. Nos filmes seguintes, com a descoberta de que — alerta de spoiler para quem viveu numa bolha nos últimos 30 anos — Luke Skywalker e Leia Organa são irmãos e filhos de Darth Vader, a trilogia ganha ainda um elemento de drama familiar e fica ainda melhor. Tudo deu certo.

O trio Luke, Leia e Han Solo
O trio Luke, Leia e Han Solo

Na teoria, a trilogia iniciada nos anos 90 também poderia ser boa. A premissa, pelo menos, é ótima: mostrar como o jedi Anakin Skywalker foi para o lado negro da força e virou o vilão Darth Vader, como os jedis foram dizimados, a formação do Império, o nascimento de Luke e Leia. Tem muito material. A execução é que foi ruim. George Lucas pegou vários dos mesmos elementos que deram certo nos três primeiros filmes, mas fez tudo errado com eles.

Como na trilogia original, tem política. Mas é tudo tão mais complicado que, para pessoas estreando no universo “Star Wars” ou há muito tempo afastadas dele, umas consultas ao Google ajudam. Há também uma história de amor, mas muito ruim. No primeiro filme, é estranho ver o romance nascente entre uma rainha, ainda que adolescente, e uma criança. Nos seguintes, Anakin força a barra com Padmé e não consegue entender que “não” significa não. Também não ajuda o fato de Hayden Christensen, o Anakin, ser um péssimo ator e Natalie Portman estar longe de seu melhor momento.

O alívio cômico, Jar Jar Binks, em vez de fazer rir, provoca em iguais medidas constrangimento, irritação e ímpetos violentos. E um vilão do calibre de Vader faz falta (Darth Maul? Pffff, por favor. Só seu sabre de luz, com duas pontas, é legal). Nem a transformação de Anakin em Vader é lá essas coisas. Falta sutileza: desde o começo ele é desobediente, irritadiço, com tendências ditatoriais, e um chato que só reclama. Yoda devia ter seguido seu primeiro instinto e se recusado a treiná-lo.

Pode parecer estranho dizer que os efeitos especiais dos filmes dos anos 1970/80 envelheceram melhor que os dos anos 1990/2000, mas é verdade. Na trilogia original, as estranhas criaturas espaciais são representadas por bonecos ora fofos — como Yoda –, ora curiosamente bizarros — escolha qualquer um no bar em que Luke conhece Han Solo. De qualquer forma, os bonecos são simpáticos. Nos filmes mais recentes, muitas criaturas são digitais, e os efeitos evoluíram muito de lá pra cá, e os efeitos envelheceram mal. Novamente Jar Jar Binks é o exemplo negativo. Mesmo Yoda é computadorizado no final, perdendo boa parte do seu charme.

Luke com o Yoda em versão boneco
Luke com o Yoda em versão boneco

Vale o mesmo para os livros de “Star Wars”. São muitos, escritos por vários autores e ambientados em épocas diferentes. São histórias tão diferentes que é impossível generalizar e dizer que os livros, como um todo, são bons ou ruins. Há dezenas de livros de “Star Wars” disponíveis, que contam histórias de antes da era da velha república, da época dos filmes e depois de “O Retorno de Jedi”. Alguns livros giram em torno de um só personagem (grande, como Han Solo, ou menor, ou do oficial Wilhuff Tarkin, comandante da Estrela da Morte).

Entre todos, “Marcas da Guerra”, de Chuck Wendig, é o único ambientado após “O Retorno de Jedi” que pertence ao cânone — coleção de livros oficiais, que existem no mesmo universo dos filmes. A maioria dos livros tem o selo “Legends”: são histórias que não têm impacto no que acontece no cinema e não dão pistas para o que vem por aí. Mesmo assim, esses volumes têm seus fãs.

Os mais populares da coleção são os da trilogia Thrawn, de Timothy Zahn. Publicada nos anos 1990, entre as trilogias cinematográficas, foi responsável por uma nova onda de interesse pelo universo de George Lucas. A história de Zahn se passa após a derrocada do Império e ganhou o selo “Legends” quando um novo filme foi anunciado. No livro, por exemplo, Leia engravida de gêmeos e Luke se casa. Vai saber o que acontece nos filmes.

Mas “Marcas da Guerra” é o único livro a dar pistas do que vem pela frente. Como os personagens do livro e do novo filme não são os mesmos e os dois foram feitos por pessoas diferentes, não dá para usá-lo como base para especular como será “O Despertar da Força”, só para sentir o clima de como andam as coisas na galáxia distante. O autor conta histórias de diferentes personagens, alguns do lado do Império, outros do lado da Nova República. Tem menos ação do que um fã da série está acostumado — é como se fosse um prólogo mesmo, um mosaico de como a galáxia está após a morte de Darth Vader e do Imperador (spoiler: não está nada bem, aqueles Ewoks começaram a dançar antes da hora).

Pelo menos, o livro mostra que ainda existem boas histórias para contar: diferente do que o final de “O Retorno de Jedi” dá a entender, com a festa de ewoks comemorando a morte do Imperador e de Darth Vader, a paz não foi alcançada na galáxia. O Império foi enfraquecido, mas a guerra está só começando.

O casal Anakin Skywalker e Padmé Amidala
O casal Anakin Skywalker e Padmé Amidala

Resta saber onde o sétimo filme se encaixará no ranking de melhores filme da série, que, por enquanto, está assim:

6) Episódio 1: A Ameaça Fantasma

Tão bom quanto uma visita ao dentista. O mundo estava certo ao dizer que Jar Jar Binks era o pior personagem de toda a série. Sem graça, irritante, é só ele aparecer em cena (e pior, abrir a boca) pra você sentir uma vontade súbita de ir ao banheiro sem pausar o filme. O ator que faz o Anakin Skywalker, coitado, é péssimo — e nunca mais fez outro trabalho como ator. Nada de emocionante acontece e a corrida de pod racers é maçante e poderia ser cortada facilmente. A luta de sabres de luz entre Darth Maul, Qui-Gon Jinn e Obi-Wan Kenobi é o único bom momento — e acontece só no final. Até lá é um suplício. Se a história for justa, esse filme será esquecido e virará apenas uma memória apagada na mente de todos nós.

5) Episódio 2: Ataque dos Clones

A boa notícia: outro ator faz Anakin. A má notícia: ele talvez seja pior que o primeiro. Impressionante, é “Star Wars”, eles podiam escalar qualquer ator do mundo, e escolheram Hayden Christensen. A química dele com Natalie Portman (Padmé Amidala) é praticamente inexistente e é difícil torcer pelo romance deles, que é o que leva Anakin ao lado negro da força. Ver Yoda como computação gráfica dá uma tristeza. Pelo menos tem menos Jar Jar e a trama de Obi-Wan investigando o exército de clones é até que legal. Se o filme se centrasse nele, talvez fosse melhor.

4) Episódio 3: A Vingança dos Sith

Hayden Christensen ainda está mal, mas melhora como Anakin. Dos filmes da trilogia nova, é o mais cheio de acontecimentos. O motivo que leva Anakin ao lado negro da força é um pouco idiota: convencido de que se juntar a Palpatine pode impedir a morte de Padmé, ele se volta contra os jedi. Mas ele não se deu conta de que ele ia perdê-la justamente por isso? E no fim das contas ela morre mesmo, o que é bem frustrante. Pelo menos o final, com a luta entre Obi-Wan (o melhor personagem da trilogia) e Anakin, é bom. E nem que seja por pura curiosidade, é legal descobrir o que aconteceu para Vader precisar daquela máscara e armadura e finalmente ver a transformação do vilão.

3) Episódio 4: Uma Nova Esperança

Não ter o romance entre Padmé e Anakin e Jar Jar Binks já faz do episódio 4 melhor que os três filmes da trilogia nova. Mas ainda não tem o mestre Yoda e como não se sabe que Darth Vader é pai de Luke e Leia há menos coisa em jogo. Para quem já sabia desse fato ao ver o filme, o clima de romance e azaração entre Luke e Leia é bem esquisito. É uma boa introdução para a história e a destruição da Estrela da Morte é legal, mas a história melhora quando Luke se torna um jedi.

2) Episódio 6: O Retorno de Jedi

Em “How I Met Your Mother” uma teoria é apresentada: quem nasceu antes de 1973 e já era grandinho no lançamento do filme não gosta dos ewoks. Quem nasceu depois, os adora. Talvez seja verdade. Como alguém que só viu a trilogia nova no cinema: eles são fofíssimos. O filme tem momentos divertidos (o resgate de Han Solo, preso por Jabba), boas lutas e um desfecho emocionante entre Darth Vader/Anakin e Luke.

1 ) Episódio 5: O Império Contra-Ataca

Ganha do “Retorno de Jedi” por ter Yoda montado nas costas de Luke, aprendiz de jedi. É, aliás, a primeira aparição de Yoda, forte candidato e melhor personagem da série. Tem também o momento mais famoso de “Star Wars”, a revelação de que Darth Vader é pai de Luke (pra quem viu o filme sem saber o spoiler, deve ter sido um momento e tanto). Como se não bastasse, tem outra frase clássica: depois de ouvir uma declaração de amor de Leia, Han Solo responde com “eu sei”. Grandes momentos em um grande filme.

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O novo “Star Wars”: a crítica com spoilers

Aviso importante: esse texto tem spoilers. Não muitos, porque o filme não se presta a isso, a verdade é essa, não acontece nada que se voce souber vai estragar sua experiência. Bem, acontece uma coisa, e eu vou ter que contar no final. Afinal, Luke Skywalker está vivo? Se bandeou para o Lado Negro? Vai ser encontrado? Essa é a única questão que você precisa chegar no cinema sem saber. E sim, esse texto tem essa informação.

***

“O Despertar da Força” começa de maneira quase idêntica a “Uma Nova Esperança”. Sabe-se lá por que, os rebeldes, que tinham ganho a briga no fim de o “Retorno de Jedi”, parece que não ganharam, e são, de novo, rebeldes. O Império agora se chama Primeira Ordem, e briga com a República. Sim, começa complicado. Os caras que tinham ganho não ganharam, ninguém explica direito como isso se deu, e o Império, que na verdade era a República, já que apareceu quando fecharam o Senado (que era a República), aquela coisa toda, agora briga com a República que… tinha deixado de existir quando o Senado Imperial apoiou o Palpatine.

Aceitemos, então, que a segunda trilogia nunca aconteceu, já que esta parece ser a grande mensagem de J. J. Abrams ao mundo, e que portanto República e Império podem co-existir — e brigar.

O Império, de novo, tem um único objetivo: acabar com os Jedi. Os rebeldes, de novo, têm um objetivo: achar os Jedi porque eles podem salvar o universo. Repare: o uso do “de novo” aqui não é acidental, porque a sensação de “de novo” é constante, é ela que domina 99% do filme.

Se não vejamos: o filme começa, de novo, com alguém colocando uma mensagem secreta dentro de um dróide. Que, de novo, se perdeu de seu dono, e precisa ser levado de volta aos rebeldes. BB-8 é um dróide pra lá de bacana, mais bacana até do que R2-D2, mas, mesmo assim, é um dróide com uma mensagem secreta que precisa ser levado de volta para os rebeldes. De novo, esse dróide cai, num passe de mágica, nas mãos de uma pessoa que “tem a Força”, embora você, de novo, não saiba disso até um pouco mais na frente no filme.

[olho]Aceitemos, então, que a segunda trilogia nunca aconteceu, já que esta parece ser a grande mensagem de J. J. Abrams ao mundo[/olho]

Beleza, vou parar com o “de novo” agora, porque aqui começam algumas diferenças entre o primeiro filme e o novo. Primeira coisa: tudo acontece rápido demais. Se no “Guerra nas Estrelas” original demora um tempo até Luke encontrar Obi Wan, decidir segui-lo, perceber que tem um poder etc., neste tudo acontece rápido demais, como se o filme devesse ter quatro horas mas só pudesse ter duas.

Enfim, o dróide está com um piloto, o melhor piloto da frota rebelde, ele é capturado, deixa o dróide pra trás, e depois é resgatado por um Stormtrooper arrependido. Esses caras fogem, e caem no planeta Jakku, de espetacular nome — o mesmo onde o piloto havia deixado o dróide. Ali, os espera Rey, que era, até então, uma catadora de lixo. Ou melhor: Rey só encontra o Stormtrooper, Finn, já que o piloto desaparece. Rey estava com o dróide, diga-se, ele apareceu um dia na esquina da casa dela.

Aqui temos que começar com o “de novo” de novo, porque , quando vão escapar de Jakku — porque sabiam que a Primeira Ordem queria pegar BB-8 –, eles encontram uma nave abandonada. Que é, simplesmente, a Millenium Falcon.

Não é que eu não esteja disposto a deixar espaço para a fantasia, certo? Se você não aceita que existe naquele universo algo que se chama “A Força”, e que isso não só é normal como é legal, nem deveria ir ao cinema. A questão é que os elementos fantásticos da primeira trilogia — robôs rodando na areia — se apóiam em uma narrativa coerente e consistente. Algumas coisas acontecem “por acaso”, e isso é OK — na vida coisas acontecem por acaso. Mas o dróide ser encontrado por alguém que tem a Força já é um acaso. Essa mesma pessoa achar uma nave espacial abandonada e ela ser a Millenium Falcon já começa a ser acaso demais. Vamos deixar pra lá o fato de que Jakku é quase uma cópia de Tattooine.

Tudo é rápido demais quando Rey e Finn são interceptados por Han Solo e Chewbacca. De repente, estão todos em um planeta “fora do sistema”, e Rey é “atraída” pelo sabre de luz de Luke, que estava escondido por lá — sério. E, ao tocá-lo, começa a ter visões.

Neste momento, já conhecemos o vilão, ou melhor, os vilões. O novo malvadão master é um Golum gigante, e eu juro pra você que quando anotei isso no cinema eu não sabia que era o mesmo ator que fez o Golum. O novo Darth Vader é filho de Han Solo com a princesa Leia, e presta homenagens ao capacete queimado de Darth Vader — também sabe-se lá por quê. Sua passagem para o lado negro não é clara, mas quero acreditar que isso vai ficar claro nos próximos filmes. Assim como não é claro porque Luke Skywalker se isolou, e se escondeu, e aí temos o argumento central da história, que se desenrola como uma busca por ele: o Império, para eliminá-lo, e com isso acabar com “o último Jedi”, e os rebeldes, para trazê-lo de volta, para que ele possa treinar “a próxima geração Jedi”.

Porque Luke se esconde é o ponto fraco do enredo. Em tese, porque estava treinando o filho de Leia — e outros Jedi –, cujo nome, aliás, é Kylo Ren, e Ren se revoltou e quebrou tudo. E virou malvado, por algum motivo. Sério? O cara está treinando a próxima geração de bonzinhos, aí um vira mau, e o que ele faz é falar “aí, fodam-se, fui!”? Não cola.

Mas voltemos à história: o Império então invade esse planeta para pegar BB-8, não pega, mas captura Rey. Finn, que estava vazando da batalha, então volta e vai junto com Han Solo procurar por ela. Eles fazem uma parada na base dos rebeldes, que é quando aparece a Princesa Leia (que agora se chama General alguma coisa, não vou procurar o nome, é a Princesa Leia). Os rebeldes, então, são descobertos pelo Império, que vai usar contra eles sua nova grande arma. Isso, de novo, eu esqueci do “de novo”, porque a arma é nada mais do que uma Estrela da Morte muito maior, e eu posso dizer pra você, do alto de quem montou uma Estrela da Morte de Lego, que essa daí eu não vou montar nem fodendo, amigo, é dez vezes maior. Mas não passa de uma Estrela da Morte, inclusive por dentro, inclusive, de novo, vai ter a cena em que a Rey tem que passar de um lado para outro mas não tem ponte. Sério!

E aí qual é a história de novo? Os rebeldes têm que entrar lá, desarmar o escudo protetor e depois atirar no oscilador para destruir a arma de novo! E de novo os caras conseguem! De novo não tem ninguém protegendo o escudo, basta render uma pessoa, que estava desacompanhada andando tranquila pela estrela, pra desarmar tudo. É absolutamente fácil demais.

Nesse momento do ataque, de novo, no planeta também estão rolando uns fights. Finn, que era só um Stormtrooper fugitivo, enfrenta Kylo Ren, que tem a Força e é do Lado Negro, com o sabre de luz, e dá briga! E Rey, que tinha a força mas tinha acabado de ficar sabendo, usa ela como um velho Jedi, escapa dos vilões e no final derrota Kylo Ren numa briga rápida e chinfrim.

E então aparece um mapa para Luke! Assim, de repente. Um mapa! Não há uma jornada para achar o cara, uma aventura. A aventura é outra, é para salvar “o mapa”, que na verdade era só metade do mapa. Quando essa metade é salva, a outra aparece miraculosamente — estava dentro de R2-D2 — e em cinco minutos acharam o Luke. Mas… se o cara queria se esconder, por que deixou o mapa dentro do robô?

***

A primeira grande briga que tive com o meu melhor amigo foi quando ele tentou estabelecer algum tipo de semelhança entre a filosofia de “Matrix” e a série “Guerra nas Estrelas”. Faz tempo, fumava-se muita maconha na época e eu já perdoei ele, mas não foi fácil. Matrix é apenas uma boa idéia, talvez até uma excelente idéia, transformada em um filme de ação mais ou menos. Não há qualquer tipo de “filosofia” ali pelo simples fato de que é tudo explícito, explicado, raso. Não é, evidentemente, o caso da primeira trilogia de Star Wars. E é, evidentemente também, o caso da segunda trilogia. O primeiro filme da primeira trilogia era um filme de ficção científica doidão, feito para adultos e que podia ser entendido, e apreciado, por adolescentes e crianças. A segunda trilogia era um caça-níqueis feito para inspirar produtos e videogames em que tudo tinha que ser explicado. É por isso que ela é uma bosta, e a primeira é sensacional.

Deste ponto de vista, faz sentido “matar” a segunda trilogia e fazer um esforço para afirmar a nova fase como uma continuação da primeira, O problema é que “continuação” não é a mesma coisa que “repetição”. Ao não querer se desprender do original, J. J. Abrams não se afasta o suficiente dele. Faz o mesmo filme, com detalhes diferentes. O que é frustrante, e só pode ser entendido se considerarmos que estamos falando apenas de uma base para uma nova trilogia. E que o segundo e o terceiro filme vão trazer a história nova, que ainda não apareceu.

Da maneira como termina esse Episódio VII, podemos até supor que o Episódio VIII será tão somente o próximo Episódio IV, mas com Luke treinando Rey no lugar de Yoda treinando Luke.

Não vou tentar convencer você de que eu vi Star Wars em 1977 porque deve haver em algum lugar uma menção ao fato de que eu nasci em 1973, e o filme não faria muito sentido para um moleque de 4 anos. Em 1983, porém, quando foi lançado “O Retorno de Jedi”, eu vi no cinema — e já tinha assistido os dois anteriores. É claro que minha primeira relação com o filme, aos dez anos, foi diferente da que tive depois, aos 12, aos 16, mas há uma diferença significativa para quem viu o filme pela primeira vez muitos anos depois: a primeira vez que vi Yoda, eu não podia ter idéia de que aquele era um mestre Jedi. Eu não sabia que Darth Vader era o pai de Luke Skywalker até o final de O Império Contra Ataca, e mesmo assim, certeza mesmo só no terceiro filme. Star Wars, para mim, não é uma experiência cinematográfica, sou pretensioso, tenho ambições intelectuais, cinema é cinema, eu curto, Star Wars é uma outra parada, é um universo. Você não compra uma camiseta, um chaveiro do Yoda, uma mochila do R2D2 porque Star Wars é seu filme preferido, mas porque aquele universo fez sentido pra você, te capturou.

Nesse sentido, a segunda trilogia é decepcionante para o público adulto também bastante por isso: não há nada de cativante ali, tirando talvez o visual do planeta Naboo – embaixo e em cima d’água.

A nova trilogia de Star Wars está no universo certo, tem a temperatura, o clima certo. Mas precisa acrescentar algo, criar algo. Não pode ser só um “Star Wars para chamar de meu” dessa geração. Este primeiro filme absolutamente não faz isso. Que ele seja, portanto, só uma caracterização, uma maneira de (re) estabelecer o clima, o ambiente. Porque se for só isso que foi até aqui, terá sido bastante decepcionante.