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‘Divorce’, ‘Insecure’ e relacionamentos

Com “Game of Thrones” a dois anos de terminar e “Girls” entrando na última temporada, a HBO preparou para este mês algumas apostas de substitutas — já que “True Detective” afundou no segundo ano e a caríssima “Vinyl” nem passou da primeira temporada. No último domingo foi a vez de “Westworld”, o drama complexo de ficção científica candidato a substituir “Game of Thrones” como série de prestígio. Neste fim de semana (9) o canal apresenta suas novas comédias: “Divorce”, com Sarah Jessica Parker, e “Insecure”, de Issa Rae.

Quando Sarah Jessica Parker apareceu pela última vez em uma série, sua Carrie Bradshaw rumava ao felizes para sempre com Mr. Big, em “Sex and the City”. Mais de dez anos depois, a atriz volta à HBO para mostrar o que acontece quando o para sempre acaba e um casamento chega ao fim. Em “Divorce”, a atriz é Frances, que nos é apresentada de toalha, passando lentamente um creme no rosto no espelho do banheiro, em um momento bem íntimo. Robert, o marido (Thomas Haden Church), entra com uma lata na mão e reclama: ela passou tanto tempo no banheiro, sem abrir a porta para ele, que ele teve que fazer as necessidades na lata. Ela reage com desinteresse, sem parar o que está fazendo.

Nas palavras de Frances, a vida do casal consiste apenas em conversar sobre assuntos banais como o alarme da casa — o que seria tolerável se ainda houvesse algum amor entre os dois ou alguma felicidade naquela rotina. Depois de um acontecimento traumático, Frances comunica a Robert que o amor acabou e que quer o divórcio. De início, ele quer conversar a respeito: sugere mais sexo, sessões com um terapeuta. Mas ela diz que não tem solução. Depois, ela muda de ideia e quer voltar atrás, dar uma segunda chance ao relacionamento. Mas ele diz que não tem solução. Com base na sinopse oficial da série (“um casal passa por um longo e arrastado divórcio”), supõe-se que a dissolução do casamento será tão difícil quanto o namoro de Carrie e Mr. Big.

Apesar da premissa dramática, “Divorce” é, oficialmente, como dito no início do texto, uma comédia. Criada por Sharon Horgan, de “Catastrophe”, da Amazon, sobre duas pessoas difíceis unidas por uma gravidez inesperada, a série tem muitas notas de humor negro — do cachorro que se sufoca intencionalmente por não aguentar mais o clima da casa à escalada surreal de uma briga entre um casal na festa de aniversário da mulher (bem, a primeira cena “Divorce” fala de defecar em uma lata). Só não é uma comédia pura, daquelas reconfortantes que você põe para não ter que pensar muito no fim do dia. É mais uma daquelas séries que causam controvérsia quando são classificadas como “drama” ou “comédia” em premiações, porque são um pouco das duas coisas. Definitivamente não conforta ninguém.

Julgar uma série pelo primeiro episódio não só é difícil como é temerário — tem algumas que precisam de uma meia temporada para finalmente pegar no tranco. O que dá para dizer de “Divorce” tendo visto só um capítulo, é que a série tem um bom começo. Sem ter um enredo muito complexo ou precisar explicar muita coisa, como “Westworld”, a série pode se concentrar em apresentar os personagens. Sarah Jessica Parker, bem distante de Carrie, tem a oportunidade de mostrar seu lado mais dramático e carrega bem os monólogos sobre a infelicidade de sua vida nos subúrbios de Nova York. Haden Church tem menos o que fazer nesse início, mas coloca humor num personagem que tem tudo pra ser uma pessoa bem sem graça. Como vemos no início mais os dois separados do que juntos, não dá para saber ainda se os dois têm muita química, o que é essencial numa série sobre (o fim de) uma relação. Pelo menos Sarah Jessica tem uma boa dinâmica com Molly Shannon, a amiga à beira de um ataque de nervos que também está num casamento problemático.

Apesar de Sarah Jessica Parker estar em “Divorce”, quem se aproxima mais de “Sex and the City” e de seu olhar sobre amizade feminina e relacionamentos é “Insecure”, a alternativa mais leve e, pelo primeiro capítulo, melhor entre as duas estreias. Issa Rae, criadora e protagonista da série, não é conhecida na televisão, mas já tinha experiência em séries com “Awkward Black Girl”, criada para a internet num momento de tédio na faculdade. Se “Divorce” pode ser definida como “casal rico de meia idade se separa em Nova York”, “Insecure” é “mulher negra chegando nos 30 vive sua vida em Los Angeles ao lado de sua melhor amiga”. São duas séries sobre relacionamentos, mas em tempos diferentes: “Divorce” é um retrato do fim, “Insecure” é tanto sobre a busca pelo romance quanto sobre as amizades.

Ao som de “Alright”, de Kendrick Lamar, somos apresentados a Issa em seu aniversário de 29 anos, em mais um dia comum em seu trabalho, como a única mulher negra em uma ONG com projetos educacionais para crianças. Na sala de aula, ouve dos alunos “por que você fala como uma mulher branca?” e “meu pai diz que mulheres negras são amargas”. No escritório, é “agressivamente passiva” com os colegas que lhe perguntam o significado das gírias do momento, como se ela estivesse por dentro de tudo que acontece nas ruas. Em casa, sustenta o namorado, que está há anos desempregado. Ela quer terminar, acha que chegando aos 30 não tem mais tempo a perder, mas não tem exatamente certeza.

Enquanto Issa não sabe se é melhor ficar num namoro pouco empolgante ou ficar solteira, sua melhor amiga, Molly (Yvonne Orji) tem certeza: escolha o namoro. Molly, uma advogada, é um sucesso profissional — segundo Issa, ela é o “Will Smith do mundo empresarial”, amada por brancos e negros –, mas não tem um namorado e sofre com isso enquanto usa aplicativos de encontro. Issa e Molly nem sempre concordam, mas estão sempre disponíveis para dar um ombro amigo uma para a outra mesmo quando brigam com a ferocidade de quem se conhece muito bem e sabe exatamente o que dizer para machucar.

Com base no primeiro capítulo, pelo menos, dá pra dizer que “Insecure” tem uma qualidade que falta a muitas das séries voltadas ao público dos vinte e poucos/tantos anos: parece realista sem ter personagens difíceis vivendo vidas horríveis. Issa e Molly são mais legais que qualquer personagem de “Girls” ou “Love” e suas vidas não são nem surrealmente boas (como Carrie, de “Sex and the City”, conseguia comprar tantos sapatos escrevendo uma coluna em um jornal é o mistério do século) nem ruins. São normais.

Se a HBO vai conseguir ou não encontrar novos sucessos para sua grade, não dá pra dizer só com base nessa semana. Mas dá pra ficar otimista.

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O que podemos esperar de ‘Westworld’?

Rodrigo Santoro tira um papel dobrado do bolso e diz: “Eu realmente não posso falar sobre a série. Tenho uma lista de ‘talking points’ e tudo é muito sobre o conceito”. Estamos — um grupo de jornalistas e o ator — num evento da HBO para apresentar a série “Westworld”, que estreia em 2 de outubro às 23h no canal, mas ele escapa de quase todas as respostas. Pode falar sobre ideias, temas, coisas gerais. Detalhes, não. “Se eu fizer, eles, sei lá, me processam. Coisa assim. Eu assinei um papel, um termo de compromisso. A gente não revela. A série vive disso. Do mistério.”

Embora “Westworld” seja inspirada num filme de 1973 de mesmo nome, não se trata de um remake: os dois só usam a mesma premissa. Tal qual o filme, a série tem como cenário uma espécie de parque de diversões que imita o Velho Oeste americano, com caubóis, bordéis, xerifes e duelos armados. Ali, vivem criaturas chamadas de “anfitriões”, robôs tão perfeitos que quase parecem humanos — e que desconhecem o fato de que não o são. Os visitantes do parque, que os robôs recebem como hóspedes recém-chegados na cidade, podem satisfazer ali suas fantasias mais primitivas: passar horas com prostitutas, estuprar, matar. Respeitando as leis de Asimov, faz parte da programação dos anfitriões que eles sejam incapazes de machucar os visitantes. É um espaço seguro, então, para as pessoas mostrarem suas piores facetas sem medo das consequências.

Não haveria série sem um conflito e, se há robôs no meio, é seguro apostar que em algum momento eles se voltarão contra os humanos que o criaram. É o que a série indica que irá acontecer: no primeiro episódio, depois que seu criador (Anthony Hopkins) faz uma atualização para deixá-los com gestos ainda mais humanos, alguns anfitriões começam a apresentar defeitos e a agir fora do roteiro que são programados a seguir.

É o caso, por exemplo, do pai da protagonista Dolores (Evan Rachel Wood), a anfitriã mais antiga do parque. Dolores, uma mocinha sonhadora que só vê a beleza no mundo, é apaixonada pelo forasteiro Teddy (James Marsden), sobre o qual pouco se sabe de início. Os outros personagens principais incluem Hector (Santoro), um bandido procurado pelo xerife, Maeve (Thandie Newton), uma prostituta local, Bernard (Jeffrey Wright), programador dos robôs, e um personagem cujo nome desconhecemos, mas com muito sangue nos olhos, interpretado por Ed Harris. Ao fim da primeiro episódio, tudo ainda é meio vago.

Tudo é mistério também para os atores, diz Santoro. “Foi muito desafiador o laboratório, porque não deu pra fazer laboratório. Porque eu não tenho informação, a gente não tem informação”, conta. “O que a gente sabe é o que nos é passado, e a gente recebe o roteiro um pouco antes do dia de filmagem.” Sem poder se aquecer, preparou-se para estar preparado. “Trabalhei o corpo, porque a gente trabalha com esses anfitriões que não são humanos, mas são muito próximos dos humanos. Não são robôs. A gente tem, claro, um corpo diferente, uma forma diferente, mas ao mesmo tempo não é robotizada. Mas tudo isso ainda está sendo desenvolvido enquanto a gente está trabalhando.”

James Marsden e Evan Rachel Wood em 'Westworld'
James Marsden e Evan Rachel Wood em ‘Westworld’

Santoro diz que escolher um papel é um pouco como fazer um amigo: quando sente uma química ao ler o roteiro, sabe que é o personagem certo. “Não existe uma fórmula e nem sempre é da mesma forma. Mas é como quando você encontra a Maria, vai pra casa e fala ‘po, a Maria é legal, né’. Por que ela é legal? Você nem conhece ela direito. Não sabe por que, mas tem alguma coisa que aconteceu ali e essa relação eu vejo quando leio as coisas de um personagem”, afirma. “Eu recebi o [roteiro do] piloto, o primeiro, quando tive o convite pra fazer a série. Eu adorei o que eu li. Claro que tem todo o pacote, os atores envolvidos, um monte de coisa que era muito sedutor.”

Hector e os outros robôs têm a possibilidade de se transformar de cena a cena. Suas ações dependem da interação com os visitantes e é interessante ver como uma mesma situação — como o encontro de Dolores e Teddy, que segue o mesmo roteiro todos os dias — pode se desenrolar de formas levemente diferentes dependendo de quem está no parque. Na mesma cena, portanto, os atores podem colocar nuances diferentes. Também pode acontecer de os manipuladores dos robôs trocarem o papel de uma das máquinas, mudando completamente o personagem. Um dia você pode ser bandido e no outro, o xerife. Dessa forma, no primeiro episódio, entendemos como o mundo de “Westworld” funciona, mas não há muitos acontecimentos: vemos as mesmas pequenas cenas cotidianas (Dolores acorda, conversa com o pai, vai até a cidade, encontra Teddy) repetindo-se várias vezes, com resultados diferentes. É uma boa introdução, mas deixa muito no ar.

O papel de Santoro, por exemplo, termina o capítulo como uma grande incógnita. Apesar de no papel Hector ser o bandido daquele cenário de faroeste, não dá pra saber de cara se ele bom ou mau — ou, de modo geral, quem são os vilões e os mocinhos (a figura do mal mais clara é Ed Harris). “Essa questão de quem é vilão e quem é mocinho é a grande pergunta da série. É isso que a gente vai mostrar. O Hector teria a embalagem, mas a gente vai muito mais fundo, as coisas vão começar a ser reveladas e aí a gente vai deixar pro espectador fazer sua própria escolha”, diz Santoro. Dá para entender os criadores, que controlam os robôs? Os visitantes que satisfazem seu apetite pela violência “matando” os robôs? Os robôs que se rebelam?

Para Santoro, a série — produzida por J.J. Abrams e Jonathan Nolan, corroteirista de “O Cavaleiro das Trevas” — é um estudo profundo sobre a natureza humana. “É uma série que trabalha muitas metáforas, muitas entrelinhas. Claro que o entretenimento está ali. Até porque no mundo de hoje, de tanto entretenimento e tão digital, a gente precisa disso pro espectador também se conectar. Mas ali vem muito alimento pro cérebro, eu acho.”

Um dos grandes atrativos para o projeto, o elenco de “Westworld” também foi motivo de nervosismo para Santoro, especialmente ao gravar uma cena sozinho com Ed Harris. “Na van começou a me dar um nervosismo, desconfortável, comecei a ficar ansioso, não tava gostando daquilo. Falei pra ele: ‘Olha, é uma honra e tal’. E ele: ‘Tá tranquilo’. E eu: ‘Tranquilo pra você, que é comigo. Pra mim não tá tranquilo, você é o freaking Ed Harris, tenho o maior respeito pelo seu trabalho, é uma cena grande só eu e você’”, conta. “É uma sensação de estar jogando com a seleção, mesmo. É outro lugar. É um lugar onde a bola vem e tem que voltar legal.”

No set, para relaxar, deitou-se numa cama que havia por ali, para tentar relaxar. Harris sentou-se ao seu lado. “Daqui a pouco ele bota a mão na minha bota. Aí ele falou uma frase, que não me lembro exatamente, mas era: ‘A gente vai fazer isso junto. Quando estiver bom a gente vai embora. Enquanto não estiver bom a gente fica aqui. Estou aqui contigo’. Aí ele levantou, a gente fez a cena e foram dois takes”, lembra Santoro. “O psicológico é uma coisa tão difícil de controlar, ainda mais quando a gente está ansioso. É tão sutil, mas aquelas palavras foram muito importantes, de companheirismo. Mostra que mesmo sendo um cara super reconhecido, é um artista, trabalhador. Sem muita firula também, não segurou na minha mão.” Foi a terceira vez que se sentiu assim intimidado na vida, conta Santoro. As outras vezes haviam sido com Benicio Del Toro, em “Che”, e Paulo Autran.

Anthony Hopkins foi outra história: logo de cara, chegou e quebrou o gelo. “Anthony vem e faz isso com todas as pessoas, vem e quebra. ‘Call me Tony.’ Olha bem no seu olho, te abraça, faz uma piada”, diz. “Almoça com todo o mundo, conta história, imita que é uma coisa. Fez uma imitação do Brando que a galera… Nossa, incrível. É um compositor, pinta, dirige. É uma lenda.” Preso à lista de tópicos autorizados, porém, Santoro não conta se chegou a contracenar com Hopkins ou se só cruzou com ele no set. “Aí você vai ter que assistir à série, não posso contar. Ele é o criador. Quando a criatura encontra o criador, coisas acontecem.”

Com tanto mistério por parte de Santoro e tendo visto apenas um episódio, bastante introdutório, dá só para prever quais serão as questões levantadas pela série para “alimentar o cérebro”, clássicas quando se fala de inteligência artificial e da relação de criador/criatura, desde os tempos de Frankenstein. Na estreia, Anthony Hopkins é uma presença bem coadjuvante, que deve ganhar importância. Sabe-se que ele é o grande cérebro por trás do parque e quer humanizar cada vez mais suas criaturas, acrescentando nelas uma espécie de memória, de subconsciente, que se reflete em gestos mais naturais baseados nas lembranças. Não sabemos, porém, quais são seus objetivos, sua verdadeira natureza ou o que sente pelas criaturas. “Westworld” também parece questionar o apetite pela violência: é moral matar uma figura que parece humana, ainda que seja uma máquina? Veremos o que a série tem a dizer.

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O tabuleiro de ‘Game of Thrones’

George R.R. Martin não é bom com prazos e provavelmente não esperava que a série “Game of Thrones” fosse, em alguns anos, superar sua saga literária “As Crônicas de Gelo e Fogo” (“Como raios você escreve tantos livros tão rápido?”, perguntou ele recentemente a Stephen King — com uma palavra menos educada que “raios”). Os showrunners da série da HBO, David Benioff e D.B. Weiss, conversaram com Martin e sabem o ponto final da história, mas os caminhos tomados para chegar até lá são diferentes, para o bem e para o mal.

(Este post contém spoilers, teorias e especulações sobre “Game of Thrones”. Leia por sua conta em risco.)

A quinta temporada, a primeira mais fora do roteiro dos livros, foi um mau sinal. Foi o ano em que Jaime Lannister partiu numa jornada para Dorne para buscar sua filha, Myrcella, que só rendeu cenas de batalhas toscas, reviravoltas sem pé nem cabeça, diálogos terríveis, personagens rasos (nomeie as três filhas de Oberyn se puder) e um final anticlimático. Foi o ano em que Daenerys continuou sem sair do lugar e enfrentou uma rebelião enfadonha e o ano que Arya gastou afastada de todos os outros personagens vendendo ostras na rua. Foi arrastado, com poucas surpresas (ninguém acreditou que Jon Snow fosse ficar morto pra sempre). Desanimador.

Por outro lado, a temporada seguinte, que terminou no último domingo, deu uma boa guinada na história. Apesar de alguns episódios um pouco parados ali pro meio, a história avançou — às vezes até um pouco rápido demais, todo o mundo viaja tão rápido que parece que Westeros tem uma frota de aviões — e todos os personagens estão posicionados para a reta final, já que há boatos fortes de que a série só terá mais duas temporadas com sete episódios. Arya saiu do exílio, como Daenerys (aleluia!), Bran está a caminho de casa, dois Stark se encontraram, a origem de Jon Snow foi revelada (ou confirmada para pessoas que leem teorias na internet), Ramsay Bolton morreu, Theon Greyjoy deu a volta por cima, Lyanna Mormont se revelou a personagem de que nós precisávamos (e merecemos), os White Walkers estão a caminho e o inverno finalmente chegou. Até a história de Dorne ganhou um propósito.

A imagem que o público irá guardar de “Game of Thrones” até o ano que vem, quando estrear a sétima temporada, é a dos últimos episódios, dirigidos por Miguel Sapochnik. E que imagem: o penúltimo tem uma das melhores cenas de batalha que vêm à memória e o último tem uma sequência de abertura para se ver de novo, com um piano marcando a preparação dos envolvidos para o julgamento de Cersei e Loras.

Quem frequenta fóruns ou sites que falam de “Game of Thrones” possivelmente já antecipava o incêndio de Cersei (a tese da Rainha Louca), a origem de Jon Snow (R+L=J) e até a vingança de Arya. O roteiro também está longe de ser à prova de buracos (como Arya sobreviveu àquelas facadas na barriga? Por que Sansa não contou que tinha reforços chegando para a guerra? Onde foi parar a feiticeira contratada por Tyrion? Nada disso foi muito bem explicado). Mas não importa muito: a história finalmente engatou a terceira marcha e entreteve. Pela posição de cada personagem ao fim da sexta temporada a perspectiva para o final é muito boa.

ONDE ESTÁ CADA PEÇA NO JOGO DOS TRONOS?

Antes de tudo, um mapa ajuda a explicar o estado atual de Game of Thrones:

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Arya: Depois de duas temporadas vendendo ostras, limpando o chão e apanhando em Braavos (em tempo de série é difícil de saber, já que não são dadas muitas dicas de passagem de tempo), Arya finalmente se juntou ao resto da história em Westeros. Em vez de ir direto para casa reencontrar a família, ela passou nas Gêmeas para riscar um nome na sua lista da morte e matou Walder Frey (e dois de seus muitos filhos). Agora ela pode tanto voltar para casa, no Norte, ou tentar tirar mais alguém da lista, como Cersei, em Porto Real.

Sansa: Reencontrou Jon Snow depois de comer o pão que o diabo amassou desde o começo da série (exemplos: noivou com um psicopata, casou à força, casou à força com um psicopata). Depois de salvar a pele de Jon na Batalha dos Bastardos com reforços que tinha escondido dele, agora divide o controle de Winterfell e do Norte — Jon deu o quarto de Ned e Catelyn pra ela, mas quem é chamado de rei é ele. Trocou um olhar misterioso com Petyr Baelish no final que pode tanto indicar que ela vai se juntar a ele pra passar a perna em Jon quanto uma preocupação.

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Bran: Virou o corvo, seja lá o que isso significa ao certo (sabemos que ele tem poderes, mas não exatamente o que vai fazer com eles). Foi deixado pelo tio Benjen perto da Muralha, com Meera Reed. Se eles conseguirem cruzá-la, estarão bem perto de encontrar com Jon e Sansa em Winterfell. Mas ainda há algumas dúvidas para a próxima temporada: Como eles farão para cruzá-la? Se eles passarem para o outro lado, vão liberar a passagem pros White Walkers? Que outros acontecimentos históricos tiveram o dedo de Bran? Qual é o papel dele na guerra que está por vir?

Jon Snow: Bran agora sabe que Jon é filho de Lyanna Stark, e não de Ned. Não fica 100% claro porque Lyanna sussurra em cena ao falar do bebê para o irmão, mas o mais provável é que seu pai seja Rhaegar Targaryen (e ele seja sobrinho de Daenerys). Quando descobrirem sua verdadeira origem ele deve ter menos direitos a Winterfell, mas ganhar força para disputar o trono dos Sete Reinos com a tia. Por enquanto ele tem que se preparar para lutar contra os Caminhantes Brancos (o inverno chegou), manter o Norte unido e dormir de olho aberto enquanto Baelish estiver por perto.

Cersei: Depois de causar o suicídio do filho, Tommen, e matar quase todos seus inimigos numa tacada só, assumiu o trono dos Sete Reinos (quem diria que seria ela, e não Daenerys, a primeira rainha?). Mas depois de ter instaurado o caos em Porto Real, matado boa parte das pessoas que poderiam lhe dar conselhos e ter criado mais inimigos, está numa situação precária. Jaime, seu maior (único?) aliado, pareceu não ter aprovado sua estratégia de colocar fogo na cidade — ele matou um rei e arruinou sua reputação para impedir que isso acontecesse antes. Uma profecia dos livros diz que ela seria morta pelo irmão mais novo. Tanto Jaime quanto Tyrion são candidatos.

Jaime: Fez uma viagem rapidíssima das Gêmeas (onde escapou de encontrar com Arya) para Porto Real e chegou a tempo de ver a irmã ser coroada, fato que pareceu não aprovar muito. Nos livros, Jaime se afasta de Cersei e parece encontrar o caminho da redenção, o que pode acontecer a partir de agora na televisão. É um dos candidatos a matar Cersei em algum ponto da história.

Tyrion: Sua temporada em Meereen felizmente chegou ao fim e ele faz parte da comitiva de Daenerys rumo a Westeros como seu principal conselheiro. Como os trajetos e o tempo não fazem muito sentido em “Game of Thrones” ele pode chegar já no próximo episódio e finalmente se vingar de Cersei e conquistar o respeito e a posição que merece.

Daenerys: Passou cinco temporadas sendo menosprezada por homens e lançando mão dos seus dragões e da sua imunidade ao fogo para destruí-los, numa história que pouco saiu do lugar. Mas agora finalmente partiu rumo a Westeros, com uma equipe e tanto: Tyrion e Varys como conselheiros, apoio dos Martell, dos Tyrell e de parte dos Greyjoy, com um exército de Dothraki e de Imaculados. E, claro, três dragões. Vai enfrentar os enfraquecidos Lannister chegando lá.

Theon e Yara: Theon recuperou sua identidade depois de uma temporada com Ramsay Bolton e não só ajudou Sansa a escapar como ainda deu apoio à irmã na disputa pelo trono das Ilhas de Ferro. Os dois agora fazem parte da equipe de Daenerys e rumam a Porto Real, onde devem participar da batalha.

Euron: Construindo mil barcos nas Ilhas de Ferro? Não sabemos ao certo.

Família Martell: Deram apoio a Daenerys. Talvez estejam em algum barco rumo a Westeros ou talvez estejam acompanhando à distância de Dorne (de preferência bem à distância).

Brienne e Pod: Foram vistos pela última vez saindo de Correrrio, onde tentaram convencer sem sucesso o Peixe Negro a ajudar Sansa na Batalha dos Bastardos. Provavelmente estão indo rumo ao Norte, encontrar Sansa. Podem cruzar com muita gente no caminho.

Melisandre: Expulsa do Norte por Jon Snow depois que Davos (finalmente, diga-se de passagem) descobriu que ela queimou Shireen. Está indo rumo ao sul, onde pode cruzar com Brienne, com Sandor Clegane…

Sandor Clegane: Se juntou à Irmandade Sem Bandeiras com rumo desconhecido. Apesar de não sabermos ao certo onde ele está e nem para onde vai, tudo indica que eles estão bem ali no miolo de Westeros, e ele pode cruzar com várias pessoas no meio do caminho (Melisandre? Brienne? Arya?).

Petyr Baelish: Está em Winterfell tramando alguma coisa e sonhando em casar com Sansa. Sem dúvidas causará problemas para muitas pessoas ainda. Jon Snow é um forte candidato a alvo.

Davos: Está em Winterfell sendo uma das melhores pessoas da série.

Tormund: Está em Winterfell sendo mais uma das melhores pessoas da série.

Lyanna Mormont: Idem. Melhor pessoa.

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Pense bem antes de recusar o chamado.

Varys: Um dos capitães do time Daenerys, num barco de Meereen rumo a Westeros. Costurou bem a parceria Martell-Tyrell-Daenerys.

Daario Naharis: Ficou em Meereen e deve sumir da série. Sua ausência não será (muito) sentida.

Sam e Gilly: Chegaram à Cidadela, depois de passarem uma temporada viajando, no trajeto geográfico que mais fez sentido durante este ano. Ele deve descobrir algo útil na luta contra os White Walkers numa das tramas mais tediosas rolando agora.

Jorah: Deixou Meereen com a ingrata tarefa de achar uma cura para sua doença raríssima que o transforma em pedra. É um coringa: pode estar em qualquer canto do mundo e cruzar com qualquer personagem a qualquer momento. Com certeza sonha com Daenerys todas as noites.

Gendry: Provavelmente remando, ainda.

Pelo arranjo das peças, a próxima temporada promete vários encontros: reunião Stark em Winterfell, vingança de Arya no centro do continente (Melisandre, Sandor Clegane e outros de sua lista estão por lá) e uma grande batalha em Porto Real que deve envolver metade do elenco. Até Jorah e Gendry podem encontrar alguém no meio do caminho. Com poucos episódios restantes, não há muito tempo a perder e a história tem que chegar ao clímax logo. E os personagens finalmente estão posicionados para que isso aconteça.