Categorias
Cultura

Os melhores discos de 2015

Nossos discos brasileiros e internacionais favoritos.

Quem chegou primeiro: o presépio do menino Jesus ou as listas de fim de ano? Difícil dizer, mas chegou aquele momento em que todo mundo dá aquela olhada pra trás e vê o que de melhor (e pior) aconteceu. Nos próximos dias, publicaremos uma série de listas sobre os filmes, séries, discos, músicas e livros que nos marcaram em 2015.

Já falamos das séries, músicas e filmes que mais gostamos no ano. Aqui listamos os dez melhores discos do ano em nossa modesta opinião, divididos em duas partes: cinco nacionais, cinco internacionais. Segura:

NACIONAIS

Ogi-R--

Rodrigo Ogi – “RÁ!”
Quando Rodrigo Ogi lançou o disco “Crônicas da Cidade Cinza”, em 2011, era fácil de sacar que ali havia um artista com um potencial monstruoso. “Crônicas” foi um disco que demorou pra bater na molecada e hoje é considerado um clássico tardio. “RÁ!”, o novo disco do rapper paulistano, começa diferente por já nascer como um clássico. Isso permitirá que daqui uns, sei lá, dez anos, ele seja visto como um momento chave no rap nacional, uma cena tão complexa e trincada, cheia de picuinhas e tretas. “RÁ!” é um cardápio de todos os poderes de um MC, com incontáveis histórias incríveis, bem articuladas, cheias de becos, vielas, tudo isso com Ogi despejando habilidades vocais, com mudanças de voz e personagens que nenhum outro rapper está fazendo por aqui. A preocupação com métricas, com caneta, com tudo, algo tão comum lá fora e meio secundário por aqui, é acompanhada por uma execução primorosa do beatmaker curitibano Nave, que criou o ambiente perfeito para Ogi se transformar naquilo que ele deve ser: um marco.

capa-Alafia_Corpura_Frontal-2

Aláfia – “Corpura”
“Corpura” é o segundo disco da superbanda Aláfia, e a sensação maior é que, após uma grande viagem introspectiva e extrospectiva, eles conseguiram chegar onde queriam: o disco é mais do que um manifesto em prol da negritude e da cultura negra. Ele é uma aula, tanto de percussão quanto de letras, sobre o estado do Brasil em vários aspectos. É aquilo que diversas bandas tentaram, bebendo ali na fonte do afrobeat, mas a impressão é que para chegar lá o Aláfia teve que se doar até a última gota de sangue, com uma crença muito poderosa sobre o que estava sendo produzido. A força de “Corpura” está por todos os lados: na voz de Xênia França, nas composições de Lucas Cirillo, na percussão de Alysson Bruno. Tudo o que aconteceu e surgiu recentemente na cena afrobeat e black brasileira estava pavimentando o caminho para esse momento, para essa corpura.

1445614638776

Leo Justi – “Vira a Cara”
Justi é como uma ponte entre os bailes de favela, o novo funk cada vez maior no Rio de Janeiro, e o mundo dos produtores e selos descolados de todo o globo que avistam com olhares maravilhados o que acontece pelo Brasil. O EP “Vira a Cara” é essa amalgama: é um aperitivo do que há de melhor rolando no funk envelopado em uma produção digna de nota e ideal pra bater a bunda no chão e suar até dizer chega.

diogo

Diogo Strausz –  “Spectrum Vol. 1”
Ouvir o primeiro disco do Diogo Strausz assim que ele foi lançado foi como receber uma voadora de esperança: há muita técnica, há muito groove, tem AOR, tem muita referência boa, participações ótimas e uma habilidade fora do comum para alguém tão jovem. É aquele disco para ouvir a qualquer momento, curtir cada nota e já criar expectativas para mais e mais produções desse jovem carioca.

capa-cd

Elza Soares –  “A Mulher do Fim do Mundo”
É impressionante receber em 2015 um disco tão podereoso de uma figura tão marcante da música brasileira. Em “A Mulher do Fim do Mundo”, Elza Soares fala de sofrimento, de amor, de putaria, de sexo, da força da mulher negra. As letras arrepiam, mas o maior acerto de Elza foi se abeirar do que há de melhor na nova safra da (podemos chamar assim?) nova MPB: Romulo Fróes e Celso Sim assinam a composição das músicas (ao lado de José Miguel Wisnik) e a banda que acompanha Elzinha tem por ali Fróes, Kiko Dinucci, Felipe Roseno e outros grandes nomes. Essa mistura funciona demais e as lamúrias se transformam em força, em poder, em uma violência musical merecidíssima para esses tempos.

INTERNACIONAIS

cover1200x1200

Kendrick Lamar –To Pimp a Butterfly”
Desde o dia 16 de março deste ano a gente já sabia qual era o melhor disco do ano. Muita coisa boa surgiu no meio do caminho, mas o que Kendrick Lamar fez em “To Pimp a Butterfly” é algo raríssimo na música atual: ele conseguiu demonstrar todas as suas habilidades como um dos melhores rappers vivos, conseguiu fazer isso fazendo crítica social de altíssimo nível, conseguiu discutir religião, conseguiu não perder o humor e o desespero perante tudo isso e, assim, criou uma obra-prima, um disco que será lembrado por décadas e décadas, com louros para as letras, como em “Alright”, pelas participações, como a de George Clinton na abertura do disco, e pela capacidade de mais um rapper de Compton mudar o jogo.

BFDNL050_The_Epic_HIGHRES

Kamasi Washington – The Epic
É fácil sacar que os principais nomes do selo Brainfeeder piram muito em jazz: tanto o Flying Lotus quanto o Thundercat destilam várias referências em seus discos. Mas ser um monstro do jazz é mais complicado do que isso. Por sorte, eles encontraram alguém mais do que capaz: Kamasi Washington. E daí surgiu “The Epic”. É curioso pensar que um disco de jazz de quase três horas, com influência absurda dos imortais da Strata East, foi lançado por um selo de música eletrônica e que, surpresa!, ele foi um sucesso. Mas “The Epic” faz jus: são horas e horas de muito jazz bom, de altíssimo nível, de um reencontro com o passado com aquela pitada necessária e sem exageros dos tempos atuais. É também um convite para uma geração que parece não ter mais tempo para jazz, para contemplação, para paz de espírito. Ouvir “The Epic” em uma tacada só é um evento raro, mas vale cada segundo.

arca

Arca –  Mutant
Um produtor venezuelano nascido em 1990 fazendo música para Bjork, Kanye West e Kelela? Foi assim que o Arca fez seu primeiro barulho. Depois veio “Xen”, no ano passado, um ótimo disco de estreia. E, pouquíssimo tempo depois, Alejandro Ghersi surge com “Mutant”, uma viagem menos mecânica, mais fluída, mais atraente, do tipo que machuca seu cérebro em alguns momentos mas ainda assim libera doses de endorfina. É quase como transar com robô? Talvez, um dia a gente descobre se é tipo isso mesmo.

sufjan

Sufjan Stevens – Carrie & Lowell
Não é de hoje que Sufjan Stevens gosta de falar sobre a morte em suas músicas. Mas “Carrie & Lowell” é o maior estudo que ele já fez sobre o assunto. Esqueça as brincadeiras e fanfarras que davam uma quebra nos discos anteriores dele. Aqui não há espaço para respirar, apenas absorver todas as dores, questionamentos e sofreguidões de um homem tentando entender o que é, o que foi e o que será a morte – o disco é uma ode a Carrie, a mãe que Stevens mal conheceu e que recentemente morreu, e Lowell, seu padrasto, ainda vivo, e extremamente próximo. Esqueça de respirar e sinta apenas o aperto no coração.

tumblr_inline_nxk6gpjth71qlrgf4_1280

Grimes – Art Angels
Olha, é preciso respeitar muito a Claire Boucher. Depois do sucesso de “Visions”, em 2012, a cantora se trancou para produzir mais um disco e, em dado momento, jogou tudo fora. Os fãs piraram, e é preciso dizer aqui que há algo de diferente nessa pressão: a Grimes é um fruto do Tumblr, uma filha da internet, e ela já se meteu em muitas discussões por causa dessa verve conectada, de comunidade, de reblogs e coisas do tipo. Agora já podemos dizer que jogar tudo fora e criar “Art Angels” foi a escolha certa: o disco é um pop extremamente torto – e isso é um elogio. É um pop que, de repente, quando você imagina o caminho mais óbvio, te surpreende com uma letra ou um refrão fora da medida, como um tapa, mas um tapa sutil, sem maldade, quase infantil, querendo chamar sua atenção. E durante todo o disco esses tapas conseguem atingir seu objetivo.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *