Os vídeos que antecederam a estreia de “Ave, César!”, nesta quinta (14), no Brasil, formam um retrato curioso. Em um deles, Channing Tatum, vestido de marinheiro, canta uma música sobre a ausência de damas no período em que estará no mar. Em outro, Ralph Fiennes tenta repetidas vezes ensinar Alden Ehrenreich a pronunciar uma frase simples, sem muito sucesso. Há ainda cenas com George Clooney, Tilda Swinton, Josh Brolin e Scarlett Johansson. Muitos personagens, pouca revelação sobre a trama da história. É um bom prenúncio do que vem pela frente. O filme dos irmãos Joel e Ethan Coen é quase que uma sucessão de esquetes frouxamente ligados — e muitos deles bem engraçados.
O elo comum entre as histórias é Eddie Mannix (Josh Brolin), responsável por resolver qualquer problema no estúdio de cinema em que trabalha: encobrir escândalos, lidar com os colunistas de fofocas, resolver queixas de diretores, antecipar reclamações do público em relação aos filmes, entre outros pepinos que aparecem pela frente. Seu maior desafio é lidar com o desaparecimento do ator Baird Whitlock (George Clooney), galã meio canastrão protagonista de um filme sobre a relação de um romano com Jesus Cristo, também chamado de “Ave, César!”.
Enquanto tenta descobrir o que aconteceu com Whitlock (a suposição inicial é que ele tenha enchido a cara ou sumido com alguma colega), Mannix interage brevemente com diferentes tipos do cinema. Hobie Doyle (Alden Ehrenreich) é o astro de filmes de faroeste, hábil com um laço e especialista em manobras arriscadas sobre um cavalo, promovido a protagonista de filme de drama artístico para desespero do diretor esnobe (Ralph Fiennes) — e uma das melhores coisas do filme, ainda que seja um dos atores mais desconhecidos do elenco. DeAnna Moran é a desbocada atriz de musicais com números de nado sincronizado com um problema para resolver. Tilda Swinton interpreta Thora e Thessaly Thacker, gêmeas que assinam colunas rivais sobre os bastidores de Hollywood e pressionam Mannix de todos os lados. A maioria entra e sai rapidamente de cena, como se os atores fizessem apenas participações especiais bem ilustres (a lista tem ainda Jonah Hill, Frances McDormand e Alison Pill).
“Ave, César!” é uma grande homenagem ao cinema, principalmente com o de décadas atrás, com números musicais de diferentes tipos, filmes bíblicos grandiosos e produções em branco e preto com diálogos rebuscados. Talvez por isso quem seja muito fã de cinema goste particularmente da história — o filme é muito bem avaliado nos dois maiores sites agregadores de críticas pelo mundo: tem 84% de aprovação no Rotten Tomatoes e 72% no Metacritic.
Mas é curioso observar, nesses dois sites, as avaliações do público: 46% no Rotten Tomatoes e 59% no Metacritic. Muitos dos comentários dizem que nada de fato acontece no filme e que as cenas são avulsas e não resultam em nada somadas (“uma coleção de piadas alinhavadas e vendidas como um longa metragem”, diz um dos usuários). Verdade. Mas se as piadas e cenas avulsas são boas, como é o caso deste filme, isso não é um problema. “Ave, César!” é um daqueles filmes que passam voando.