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Cinema

Um faroeste arroz com feijão

Refilmagem de ‘Sete Homens e um Destino’ faz somente o necessário

Como premissa, “Sete Homens e um Destino” não é dos filmes mais originais. Não só pelo fato de ser um remake de um faroeste de 1960 (o pôster acima é dele), que por sua vez é uma releitura de um filme de 1954 de Akira Kurosawa — seria difícil esperar algo de incrivelmente novo num caso desses, embora a esperança seja a última que morre. É um filme todo convencional, da premissa à estrutura, não há nada que surpreenda realmente. Mas nem todo filme precisa inventar a roda e o faroeste de Antoine Fuqua, que estreia na quinta (22), faz aquilo que se propõe a fazer. Nem mais, nem menos do que o estritamente necessário.

Logo na primeira cena somos apresentados ao vilão e à mocinha, que depois terão pouco impacto na história, mas que colocam a trama toda para funcionar. Ele é Bartholomew Bogue (Peter Sarsgaard), um homem rico e poderoso que só falta torcer a ponta do bigode para ser um estereótipo. Ela é Emma Cullen (Haley Bennett), moradora de uma cidadezinha americana que é alvo de Bogue — ele quer que todo o mundo saia dali e dá aos moradores as alternativas de Pablo Escobar: prata (20 dólares para quem quiser vender suas terras para ele) ou chumbo (quem se recusar a sair por esse dinheiro sairá morto).

Emma é uma personagem corajosa, mas “Sete Homens e um Destino”, como o título avisa, não é uma história revolucionária em que uma mulher do velho oeste americano resolve seus problemas com as próprias mãos. Com todo o dinheiro que consegue juntar, ela contrata o caçador de recompensas Sam Chisolm (Denzel Washington) para proteger a cidade e não deixar os vilões, que voltarão em algumas semanas, cumprirem a promessa. Chisolm é bom com armas, mas incapaz de cumprir a missão sozinho, e para isso recruta outros seis golpistas/criminosos/mercenários para se juntar a ele na missão suicida.

É um grupo heterogêneo: Faraday (Chris Pratt) é o malandro que faz piadas, Goodnight Robicheaux (Ethan Hawke) é uma lenda da Guerra Civil traumatizada pelo passado, Billy Rocks (Byung-hun Lee) é seu escudeiro asiático, hábil com facas, Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo) é um mexicano procurado pela polícia, Jack Horne (Vincent D’Onofrio) é um religioso bom em perseguições, e Red Harvest (Martin Sensmeier) é um índio solitário — os protagonistas de verdade são Washington, Pratt e, em menor grau, Hawke. Apesar da intenção de Fuqua de ter um elenco diverso, sabemos pouco sobre os personagens que não são homens brancos — quando você precisa apelar ao IMDb para lembrar do nome de um personagem, é um mau sinal.

Em resumo, é o “Esquadrão Suicida” do Velho Oeste. Mas um Esquadrão Suicida mais consistente, sem buracos na história: dá para entender por que boa parte daqueles mercenários resolveu aceitar uma missão tão perigosa, seu objetivo faz sentido e há uma sensação bem mais forte de perigo em “Sete Homens e um Destino”, com os capangas de Bogue armados até os dentes, do que no filme de super-heróis, em que os vilões são quase onipotentes. A história é bem simples e se desenrola da maneira que se espera — os tais sete magníficos transformam a cidadezinha numa espécie de casa do Kevin em “Esqueceram de Mim”, cheia de armadilhas, e recebem os vilões numa grande batalha que entretém quem gosta de cenas de ação.

“Sete Homens e um Destino” pode não ter os defeitos de um “Esquadrão Suicida”, mas é um filme arroz com feijão, do qual é pouco provável que alguém se lembre no mês seguinte. Falta a ele algo a mais. O vilão é simples, pouco memorável; tem personagens com histórias interessantes, mas não exploradas, como Red Harvest e Billy (por que o primeiro anda sozinho, estilo lobo solitário? Como o segundo foi parar no velho oeste americano?) e apesar de as cenas de ação serem bem feitas, falta um pouco de diversão. Chris Pratt até tenta, colocando em seu personagem aquele seu jeito clássico de adolescente engraçadão, mas parece deslocado ali no meio. Em tempos de blockbusters mais ou menos, cheios de histórias que não fazem sentido, “Sete Homens e um Destino” não decepciona. Mas só isso não deveria ser motivo para comemorar. Nem todo filme precisa ser revolucionário, mas ser só corretinho é se contentar com pouco.

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